Desejo
"Teu corpo seja brasa e o meu a casa que se consome no fogo. Um incêndio basta pra consumar esse jogo. Uma fogueira chega pra eu brincar de novo."
(Autoria desconhecida)
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"Teu corpo seja brasa e o meu a casa que se consome no fogo. Um incêndio basta pra consumar esse jogo. Uma fogueira chega pra eu brincar de novo."
(Autoria desconhecida)
Óleo sobre tela: The Passion, de Richard Young
'DESPERTA-ME DE NOITE O TEU DESEJO...'
Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua língua
Em sua teia
É vício as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vai descobrindo vales.
(MARIA TERESA HORTA)
(Óleo s/ tela de Cayetano de Arquer Buigas)
RITUAL DO AMOR
I
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
As pernas cruzadas
na racha entreaberta
Os braços erguidos
e o vestido
subido nas coxas que já despe
II
Depois é a penumbra
e o vestido
a tirar pela cabeça
amarrotado
As mãos abocanhando
o cimo do vestido
no desatino - na pressa
que as invade
Acesa a carne
no ócio dessa tarde
liberta enfim da seda do vestido
que em vez de seda é sede
e é a tarde
acesa enfim no corpo sem vestido
III
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
na febre em que
se despe
e é tirado
no hálito do quarto
ou atirado
e cai devagar
depois de ser despido
IV
Aos pés
está o vestido
amachucado
depois os joelhos no vestido
as coxas brandas e doces
no tecido
que vai cedendo ao gosto dessa tarde
V
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
que se ergue
do chão
amarfanhado
o vestido que mal foi despido
conheceu do corpo
o peso do seu acto
VI
Assim volta à maneira
de vesti-lo
tornar a descê-lo pelos braços
cortando logo a tarde
e a ternura
perdida na penumbra desse quarto
VII
Quanta saudade
da seda do vestido
que à pele adere
num outro abraço
Baraço entorpecido
nos sentidos
secreta maneira
de tolher os passos
VIII
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
Já só memória
o corpo todo
nu
Dissimulado agora pelo vestido
que os dedos abandonam
um a um
IX
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
que o gesto alisa
ao descer o fato
Vestido que na fímbria
ainda é vestido
mas não na fenda
onde já se abre
MARIA TERESA HORTA, in AS PALAVRAS DO CORPO (D. Quixote, 2012)
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